Friday 8 July 2005

O dia após

Fui dormir exausta. De madrugada o telefone toca aqui, eram os parentes da Lidia perguntando se estava bem. Eu fiquei acordada por um tempo até conseguir pegar no sono novamente. E na cabeça, só me vinha as imagens que eu tinha visto na rua e na TV.

Acordei quinze pras sete e meu primeiro impulso foi ligar a TV para ver a situação. Fui ver no site do Transport for London como estava o transporte público. O metrô estava funcionando parcialmente, e os ônibus estavam com serviço quase normal. Me arrumei e fui para o trabalho.

E quando o ônibus veio e eu entrei nele? Prendi a respiração e subi. Tinha que ir. Se não fosse, não poderia seguir com minha vida aqui.

Subi para o andar de cima. A primeira coisa que vi foi um homem sentado na primeira cadeira da frente. Chorando.

O resto das pessoas, cada uma delas com a cara mais triste e assustada que as outras. O dia novamente amanheceu nublado, e isso aumentava a sensação de aperto no peito. Estava no ônibus 63, que tem ponto final em King´s Cross. Precisa dizer mais?

Nas ruas, as pessoas andavam com rostos sorumbáticos. Olhava pra porta da estação do metrô, e me doía pensar no que ocorreu lá embaixo no dia anterior.

Meus músculos doíam, e ainda doem, da caminhada de ontem. Hoje que fui sentir o esforço que fiz.

Trabalhei mecanicamente, só pensava em ir pra casa. Não fui à aula a tarde. Náo conseguiria me concentrar, quando o local onde explodiu o ônibus foi a 5 minutos da minha escola. E exatamente ao lado de onde freqüento o grupo espírita.

Comprei o jornal que ainda não li. Na capa, fotos de pessoas desaparecidas. Parece que houve gente que saiu do metrô devido ao fechamento, ligaram pra casa ou pro trabalho dizendo o que tinha acontecido, falando que iriam pegar um ônibus pra chegar ao seu destino, e foram entrar justamente no ônibus que tinha a bomba.

Eu sempre me senti tão segura em Londres. Vinda do Rio de Janeiro, aqui era um paraíso. Mas hoje, como andar na rua do mesmo jeito que antes? Como andar de metrô ou ônibus com a mesma despreocupação que tanto me encantava daqui?

Estou agradecida a Deus por estar viva. Mas também ainda preocupada, ainda mais pelos meus afetos daqui.

Ó Deus! Fortalece nosso espírito, por favor.

Obrigada, amigos, pelo carinho.

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