Tuesday 1 February 2005

Eu gostava dele mas não dizia pra ninguém. Seu nome era Rodrigo.

Ele era o mais bonito da turma. No nosso círculo de amizades, quando íamos comentar sobre os meninos, ele era sempre tema da conversa. Acho que não havia nenhuma menina que no fundo não gostasse dele. Porque ele era realmente o mais gato de nossa turma.

Eu já era a mais intelectual da turma. Todo mundo vinha a mim pra tirar alguma dúvida das aulas, queriam que eu desse cola nas provas, e era o xodó das professoras.

Mas lá no fundo, eu não queria esta popularidade como "crânio", eu só queria que ele me notasse. Eu sonhava com ele dia e noite.

Mas eu nunca contava pras minhas amigas que eu gostava dele. Por quê? Não sei dizer. Vergonha, acho. Eu ainda estava aprendendo a lidar com estes sentimentos tão fortes do amor, aos 11 anos de idade.

Nós nos dávamos bem. Conversávamos e tudo, mas eu firme para que fosse bem impessoal e ele não lesse nos meus olhos o que eu sentia.

Uma manhã, na quadra da escola, ele me disse que gostava de mim. Que me amava. Eu fiquei tão em choque que comecei a correr pela quadra fugindo dele, dizendo para ele parar de me pertubar. Ele atrás, gritando pra todo mundo ouvir: "Mas eu amo você! Eu te amo!"

Outra vez, antes de dar o sinal de entrada na escola, ele me puxou para um canto e me mostrou um livro que tinha trazido (acho que era algo sobre a vida militar), dizendo que quando crescesse queria ser militar, e que queria que eu compartilhasse de seus planos para o futuro. Todo mundo olhando.

Depois minhas colegas me bombardeavam de perguntas, e eu sempre dizia: "Não! Eu não gosto dele!"

Era comum pegarmos o mesmo ônibus juntos na volta para casa; ele morava dois pontos depois de mim. Mas num dia ele saltou junto comigo. Me falou que iria me levar até em casa, pois iria pedir ao meu pai pra namorar comigo. Eu não acreditei a princípio, mas ele foi andando comigo, e eu cada vez mais aterrorizada de que ele estivesse falando sério. Ele me assegurava que sim. Aí a poucos metros de casa eu passei a implorar a ele que não fizesse isso, porque eu NÃO queria namorar com ele de jeito algum. Instei tanto, que aí ele só me levou até a porta, e com cara de triste, falou tchau e foi andando pra casa dele. Eu lembro de ter entrado em casa lívida, e lembro da cara de feliz de meu pai por eu ter chegado, porque o almoço estava pronto.

Depois desse dia, ele ficou cada vez mais retraído comigo. As lembranças são esparsas. Não sei o que aconteceu com ele, se entrou na vida militar ou não, se fez faculdade, onde vive, se está casado, nada.

Eu só lembro de ter sofrido bastante por causa da minha timidez na minha adolescência. É, não faz tanto tempo que isso aconteceu não. Somente 13 anos.

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