Tuesday 27 January 2009


The Toilet of Venus ('The Rokeby Venus'), 1647-51
VELÁZQUEZ, Diego [1599 - 1660]

Quando pisei na National Gallery pela primeira vez, era dezembro de 2002, eu nos meus 22 anos achando que era gente... e então endoideci. Enlouqueci. Sempre tinha visto quadros nas páginas dos livros, e os admirava. Mas nada tinha me preparado para estar em frente a um quadro, uma obra de arte. Ser levada a um outro mundo, dos pincéis, das tintas, das cores, da harmonia, dos sentimentos mexeu comigo pra sempre.

Lá fora fazia muito frio, o tempo corria, mas eu queria ver cada quadro, cada detalhe, meus pés já não aguentavam mais e eu andava pelos corredores fascinada.
Saí de lá com gosto de quero mais, muito mais.

Depois dessa data, voltei lá muitas vezes. Saía sempre satisfeita, mas com muita vontade de voltar e aprender mais. Fui nos Wednesday Lates [delicioso degustar música clássica e pinturas ao mesmo tempo], guided tours [sempre a primeira], Lunchtime talks [um insight especial sobre certas pinturas], exibições pagas, etc, etc.

Dentre todos os quadros, o que eu mais gostei [se é que posso falar assim, já que eu amo muitos deles] é este, The Rokeby Venus, de Velásquez, que já foi até o tema de um template pro meu blog.

Esse é o único quadro de Velásquez com o tema de mulher nua que sobreviveu ao fogo da Inquisição, graças a ter sido mostrado às escondidas por um bom tempo.

O quadro é tão real, tão bem pintado, que você parece poder tocar o corpo da moça que se encontra languidamente deitada. A moça que tem um corpo que muitas de nós queríamos, uma cinturinha de pilão, bumbum firme, coxas bem torneadas, uma jovem sensual e nada pudica.

Imagino o frisson daquela época entre os homens, estarem no salão reunidos, e o quadro ser descoberto de uma pesada cortina, para poder ser admirado, longe dos olhos das moçoilas da época. Lembrem-se que no século XVII não existia TV nem revistas pornô para que os homens admirassem o corpo das mulheres, e estávamos na Espanha, longe das terras quentes do Brasil, terra onde as índias mostravam pra quem quisesse ver "suas vergonhas".


O quadro foi danificado pela sufragista Mary Richardson, em 10 de março de 1914, em protesto pela prisão da companheira sufragista Emmeline Pankhurst no dia anterior. Suas palavras: "I have tried to destroy the picture of the most beautiful woman in mythological history as a protest against the Government for destroying Mrs. Pankhurst, who is the most beautiful character in modern history."

O quadro foi restaurado na própria National Gallery e está praticamente perfeito, como eu pude constatar.

Minha observação final é: se todas as demonstrações da beleza feminina feitos com nu fossem deste calibre, quão melhor seria esse mundo! Infelizmente, o que se vê é uma degradação constante da imagem feminina, através das várias formas de pornografia, e na televisão o que mais se vê é o corpo da mulher sendo vulgarizado.

Salve salve a beleza feminina, e que esta beleza seja cantada, pintada, versada, tudo através da ARTE, a verdadeira arte, que dignifica e eleva.

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